Uso de cannabis medicinal em animais se mostra cada vez mais promissor, apesar do estigma e de leis proibitivas

Associação Regenera @regeneraal

Em várias partes do mundo, a utilização de cannabis medicinal em animais tem demonstrado benefícios significativos, apesar do estigma social e das leis proibitivas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a legislação muitas vezes impede os veterinários de estudar e utilizar canabidiol (CBD) em suas práticas. No entanto, casos como o de Nidia, uma elefanta asiática de 55 anos no México, ilustram o potencial terapêutico do CBD.

Nidia sofria de problemas crônicos nos pés, incluindo fissuras, unhas encravadas e abcessos dolorosos. Após perder apetite e peso, sua veterinária, Quetzalli Hernández, recorreu ao CBD com a ajuda do veterinário Mish Castillo, da Ican Vets. Nidia começou com uma dose diária de 0,02 miligramas de CBD por quilo de peso corporal, administrada junto com pedaços de frutas. Poucos dias após iniciar o tratamento, Nidia apresentou uma melhora notável em seu apetite e comportamento, ganhando 555 quilos em cinco semanas.

Além de elefantes, outros animais como papagaios, tartarugas e hienas também têm mostrado benefícios com o uso de cannabis medicinal. Contudo, a introdução do CBD na medicina veterinária enfrenta desafios significativos, como a confusão sobre as leis, o estigma relacionado às drogas, a falta de educação e a escassez de estudos revisados por pares. Nos Estados Unidos, a legislação restritiva dificulta a capacidade dos veterinários de pesquisar e utilizar cannabis em suas práticas.

Stephanie McGrath, neurologista veterinária da Universidade Estadual do Colorado, destaca a necessidade de mais pesquisas para entender melhor como a cannabis deve ser usada em animais. Apesar das barreiras, alguns estados como a Califórnia estão começando a abrir caminho para a cannabis veterinária. Internacionalmente, o México tem se destacado na pesquisa e uso medicinal de cannabis em animais, com cerca de 1.500 veterinários treinados desde 2019.

Casos de sucesso com o uso de CBD em animais incluem Macarena, um furão que sofreu graves traumas na coluna após cair de uma varanda. Com uma dose de 0,3 miligramas de CBD por quilo de peso corporal, Macarena parou de se automutilar, ganhou peso e tornou-se mais ativa, conseguindo até interromper o uso de opioides. Embora Macarena tenha falecido de velhice em setembro, ela manteve um bom humor até sua morte, ilustrando o potencial do CBD em proporcionar alívio e melhorar a qualidade de vida dos animais.

A cannabis contém mais de 100 compostos químicos, sendo o CBD e o tetrahidrocanabinol (THC) os mais conhecidos por seus efeitos terapêuticos. O CBD não altera a consciência, ao contrário do THC, que é responsável pelo “barato” associado ao uso de maconha. Essas moléculas interagem com o sistema endocanabinoide dos vertebrados, ajudando a manter os sistemas orgânicos do corpo estáveis.

Apesar dos avanços, a adoção da cannabis na medicina veterinária ainda é lenta. No entanto, cada ano traz mais resultados de pesquisas, cursos de treinamento e programas de orientação, além de colaborações internacionais. A continuidade desses esforços é crucial para superar os desafios legais e educacionais, permitindo que mais animais possam se beneficiar das propriedades terapêuticas da cannabis.

A crescente aceitação da cannabis medicinal em humanos e animais sugere um futuro promissor para a integração dessa terapia na medicina veterinária. À medida que mais evidências científicas se acumulam e a legislação evolui, a esperança é que a cannabis possa se tornar uma ferramenta comum e eficaz para o tratamento de diversas condições em animais, melhorando sua qualidade de vida e bem-estar geral.

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Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/02/07/uso-de-cannabis-medicinal-em-animais-se-mostra-cada-vez-mais-promissor-apesar-do-estigma-e-de-leis-proibitivas.ghtml

Lula, um cachorro de 13 anos que sofre de câncer, em tratamento com CBD — Foto: Luis Antonio Rojas / New York Times

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